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O VINHO OLÍMPICO!



    Se tem uma coisa nesse mundo que eu goste tanto quanto vinhos, com certeza são os esportes. Apesar de não praticar quase nenhuma modalidade eu costumo assistir e acompanhar um sem-número de eventos esportivos. Sou daqueles fanáticos que assina todos os canais de esporte na TV a cabo e as vezes me pego até altas horas da manhã assistindo o campeonato coreano de baseball, só para citar um exemplo.


    Umas da melhores experiências de minha vida, foi acompanhar as Olimpíadas do Rio de 2016 in loco, onde passei quase um mês comparecendo a competições, que iam desde os esportes mais tradicionais até modalidades pouco conhecidos de nós brasileiros, mas que são extremamente divertidas de assistir ao vivo, tais como esgrima, hóquei na grama e ciclismo de pista.


    E o que o mundo do vinho tem a ver com as Olimpíadas? Nada.



    É bem provável que o vinho não seja lá muito recomendado na dieta de um atleta de alto rendimento, mas o que o Barão Pierre de Coubertin não contava, quando reviveu a chama dos jogos Olímpicos no final do século XIX é que os gênios do marketing usariam o maior e mais complexo evento esportivo do mundo para promover uma enorme variedade de produtos, incluindo vinhos.


No post dessa semana vamos conhecer um pouco mais sobre os vinhos produzidos na sede da trigésima segunda edição dos Jogos Olímpicos de Verão da era moderna: o Japão!


O MERCADO DE VINHOS NO JAPÃO.



    O Japão, apesar de pequeno em território é uma grande nação. Tem uma das maiores economias do mundo, é muito conhecido por seus produtos tecnológicos, sua indústria é referencia em qualidade e é um expoente da cultura pop moderna. Mas se tem algo que ninguém associa aos japoneses, isso é a produção de vinhos finos. Pelo menos não os feitos de uva.


    O saquê, sua bebida símbolo é um fermentado de arroz, que muitos chamam de vinho de arroz, entretanto seu processo de fabricação se assimila mais ao da cerveja. Aliás, existem excelentes marcas de cerveja japonesa, sendo alguns conglomerados desse setor grandes players mundiais. Além do saquê e da cerveja, no Japão também se fabricam alguns do melhores whiskeys do mundo, os quais já contam com grande fama internacional, fama esta que os vinhos ainda não conquistaram.


    Apesar de sua indústria vinícola ainda ser pequena, não aparecendo nem entre os 20 maiores produtores do mundo, bem atrás do Brasil por exemplo, os japoneses consomem uma quantidade muito grande de vinhos. O país é o décimo maior importador de vinhos e figura entre os 15 maiores consumidores de vinho do mundo, por volume total. Nesse pódio os Americanos levam o ouro com a China em segundo lugar e a França completando os medalhistas. Dois dos maiores e mais respeitados concursos internacionais de vinhos, acontecem todo ano no Japão, sendo o júri do Sakura Awards composto exclusivamente por mulheres.



    Diante de um mercado tão grande, nas últimas décadas a indústria vinícola japonesa vem se reorganizando, investindo na qualidade de seus produtos e as Olímpiadas que seriam realizadas no país em 2020, mas tiveram de ser adiadas para esse ano por conta da pandemia, se tornariam uma grande vitrine para que os estrangeiros pudessem conhecer os vinhos japoneses. A gigante do setor de bebidas Asahi Breweries, adquiriu uma cota de patrocínio dos jogos olímpicos e além de sua cerveja carro chefe, elegeu o vinho Sainte Neige, produzido na província de Yamagata, ao sopé do Monte Zao, como a bebida alcoólica oficial dos jogos.


    Infelizmente, com o aumento do número de casos de Covid no Japão, o Comitê Olímpico Internacional, decidiu, no final de junho deste ano, proibir a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas e restaurantes dos Jogos o que mesmo trazendo prejuízos para a empresa foi de pronto aceito pelo grupo. De qualquer forma, vale a pena conhecermos um pouco da história e de como se dá a produção de vinhos em terras nipônicas.


A HISTÓRIA DO VINHO NO JAPÃO


    Apesar de lendas sugerirem que a produção de vinhos no Japão se iniciou por volta do ano 700 D.C. aos pés do Monte Fuji, o que já de concreto é que a história da vitivinicultura japonesa se inicia em meados do Século XVI, coma chegada dos missionários jesuítas portugueses que trouxeram consigo o hábito de consumir vinhos e após terem presenteado diversos lordes feudais com a bebida portuguesa, o consumo desta bebida se espalhou pelo país.



    Retrato japonês de São Francisco Xavier no Museu Municipal de Kobe. O missionário foi um dos responsáveis por levar os vinhos ao Japão.


    Por muitos anos os japoneses importaram uma grande quantidade vinho europeu e na segunda metade do século XIX, por volta do ano de 1860, durante a era Meiji, o Japão tentou a iniciar sua própria produção de vinhos, importando maquinário e cepas europeias, entretanto junto com as mudas de vinhas, veio também a praga da Phylloxera que acabou devastando os vinhedos recém-plantados e deu fim a primeira tentativa de se consegui vinhos de qualidade no Japão.


    Em alguns poucos lugares continuaram-se a produzir vinhos, mas no geral, dado ao gosto dos japoneses por vinhos mais adocicados, nada com muita qualidade era engarrafado. Basicamente do final dos anos de 1890 até o início da segunda guerra mundial, os japoneses produziam um vinho com paladar similar ao do vinho do porto, chamado por ele de Akadama Pōto Wain (赤玉ポートワイン,) que conseguiu grande notoriedade, mais por conta de seu anúncio, considerado escandaloso à época, do que pelo seu sabor.



    Foi somente após o final da segunda guerra mundial, com a consequente ocidentalização do Japão que o interesse dos japoneses pelos vinhos finos voltou a florescer. Entretanto até o final dos anos 80 a produção de uvas viníferas era muito pequena e os produtores locais importavam uvas e vinho a granel de outros países para engarrafar sua produção. Com o boom econômico do início dos anos 90 o consumo de vinhos atingiu outro status no Japão e os produtores passaram a investir em importar equipamento e plantar uvas internacionais, como a Cabernet Sauvignon e Merlot e os vinhos produzidos com uvas cultivadas localmente passaram a ser sinônimo de qualidade.


    Já nos anos 2000 com o vinho em um lugar de destaque perante os consumidores japoneses, diversas localidades passaram a disputar competições para quem produzia os melhores vinhos japoneses com uvas cultivadas localmente, o que contribuiu muito para o aumento da qualidade de todos os vinhos japoneses, sendo que alguns, atualmente, já atingiram um nível tão alto que são exportados, ainda que em pequeníssimas quantidades para outros países. Infelizmente, apesar de já terem sido importados para o Brasil, atualmente é muito difícil de encontrá-los por aqui.


O MONTE OLIMPO DOS JAPONESES


    Se o Monte Olimpo, era a morada dos Deuses para os gregos da antiguidade, o Monte Fuji, além de sagrado é a morada dos melhores vinhos do Japão. A montanha (um vulcão na verdade) é o pico mais alto de todo o arquipélago japonês. Aos seus pés na prefeitura de Yamanashi e ao longo do vale de Koshu, crescem em seu solo vulcânico, com ótima exposição a luz e em boa altitude, uvas em pequenos vinhedos que sintetizam todo o terroir japonês.



    Terroir esse que não tem o clima mais favorável para a produção de vinhas, com muito vento e humidade no verão, tampouco o melhor solo, mas que os produtores vêm conseguindo “domar” com primazia. O problema maior dos vinicultores japoneses é a falta de terras agricultáveis na ilha disponíveis para a produção de uvas e além do pequeno espaço as terras em geral localizadas em áreas montanhosas, são de difícil acesso para o maquinário pesado. Essas dificuldades fazem com que o vinho japonês feito com uvas colhidas em seu país, tenham um custo relativamente alto.


    Dentre os vinhos tintos, aqueles feitos a partir das castas Cabernet Sauvignon e Merlot, vem se destacando, com uma grande menção honrosa aos varietais de Syrah, mas a uva tinta emblemática do Japão é uma hibrida, criada para contornar as dificuldades do clima japonês, chamada Muscat Bailey. Essa uva é muito versátil, podendo produzir desde vinhos mais adocicados, até vinhos secos e envelhecidos em carvalhos. Quando mescladas com as uvas francesas tende a produzir um vinho que lembra os Bordeauxs, mas quando se produz um vinho varietal seu estilo lembra mais o de um Borgonha.


    Outra uva japonese de destaque é a variedade branca chamada Koshu. Muito utilizada na região de Yamanashi, não se sabe ao certo sua origem, mas acredita-se que tenha chegado ao Japão há mais de mil anos atrás importada do Cáucaso e se adaptou muito bem ao quente verão japonês. Seus vinhos, em geral, apresentam uma cor amarelo palha e com um buquê muito frutado, com notas cítricas e de frutas brancas. Seu paladar delicado e fresco é um par perfeito para a cozinha japonesa.



Uva Koshu.


    Com as restrições impostas para viagem, bem como a limitação de público, é bem provável que você quem está lendo esse texto, assim como eu, não comparecerá aos Jogos Olímpicos desse ano, sendo assim dificilmente conseguiremos degustar os bons vinhos japoneses, mas quando o levantamento de taça se tornar modalidade Olímpica, teremos boas chances de abocanhar uma medalha de ouro.

Como não temos vinhos japoneses disponíveis aqui no Brasil, abaixo deixo alguns links na Amazon para vinhos de outros países considerados exóticos:



Kanpai e sayonara!

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