O intuito desse espaço sempre foi trazer histórias interessantes ligadas ao vinho e evitar conteúdos técnicos que atualmente são muito difundidos e facilmente encontrados na internet. A missão, não é fácil e exige muita dedicação à pesquisa. Essa atividade é apenas uma das diversas que me dedico para garantir o “dindin” que compra aquela garrafa de vinho para os finais de semana.
Para todos nós que não chegamos ao andar mais alto da pirâmide e o dinheiro ainda é um problema, conquistá-lo, na maioria das vezes, é cansativo e estressante. Quem nunca sentiu vontade de mandar tudo às favas, levar uma vida mais tranquila, pescando, viajando o mundo ou plantando uvas e produzindo vinhos.
Essa semana trago as histórias de algumas pessoas que tomaram essa atitude e nessa busca pela felicidade ainda nos entregaram grandes vinhos para que, enquanto não chega a nossa vez, pelo menos termos algo para suavizar as batalhas da vida.
O PODEROSO CHEFÃO DOS VINHOS
Francis Ford Coppola é o aclamado diretor, roteirista ou produtor de algumas dezenas de filmes que lhe renderam 5 Oscars, 6 Globos de Ouro, 2 Palmas De Ouro por conta de trabalhos como: Patton, Apocalypse Now, The Conversation, The Outsiders, The Cotton Club e Bram Stoker's Dracula. Mas sem sombras de dúvida o filme que lhe alçou a outro patamar, com certeza foi The Godfather (O Poderoso Chefão).
Na verdade, a trilogia toda o _terceiro é duvidoso na minha opinião_ fez enorme sucesso, mas o primeiro título de 1972 foi quem revolucionou a indústria do cinema e o gênero de filmes de gangsteres e mafiosos. Sua sequência, The Godfather II, lançado em 1974 foi a primeira continuação a ganhar o Oscar de melhor filme e além da crítica encantou também o público. Mas alcançar todo esse status, fama e reconhecimento, não vem sem cobrar seu preço.
Após finalizar o duro trabalho em o Poderoso Chefão II e já tocando alguns negócios paralelos ele e a esposa Eleanor precisavam de uma pausa. Procurando uma casa campestre para um merecido descanso, compraram em 1975 uma antiga propriedade no Napa Valley na Califórnia que possuía um combalido vinhedo. E ali naquele break de todo o stress de Hollywood o “bichinho” da vinicultura o mordeu.
A casa e o vinhedo que o casal adquiriu faziam parte do que outrora foi uma célebre vinícola chamada Inglenook, e apesar do estado lastimável que a propriedade se encontrava eles logo perceberam o tesouro que tinham em mãos e começaram um projeto, que duraria mais de 40 anos, para retornar à Inglenook sua antiga glória.
O problema com todo o workaholic é que a quietude costuma durar pouco. Já em 1976 começou a trabalhar naquele que é considerado um os melhores filmes da história Apocalypse Now, mas que quase o levou a falência, por algumas vezes ficou à beira de perder vida ou a sanidade mental. Ao retornar das filmagens nas Filipinas, em 1978 colheu as uvas e produziu junto de toda sua família a primeira safra de seu vinho ícone chamado Rubicon o qual até hoje é o vinho ícone da vinícola Inglenook.
O sucesso dessa vinícola levou a novos empreendimentos no mundo dos vinhos que hoje contam com mais 4 vinícolas na Califórnia e Oregon sendo algumas delas administradas por sua filha Sofia. Além de todo o sucesso que conquistou na indústria cinematográfica, Francis Ford Coppola foi reconhecido também como uma das pessoas mais influentes da indústria vitivinícola americana pela revista Wine Enthusiast.
DO REFRIGERANTE PARA O VINHO.
Herman Warden Lay Jr foi um dos filhos do fundador da marca de salgadinhos Frito-Lay, mas conhecida aqui no Brasil como Lay’s. In 1965 a Frito-Lay, Inc. se fundiu com a Pepsi-Cola Company, resultando no colosso multinacional dos alimentos e bebidas PepsiCo, que além dos refrigerantes também é dona de muitas outras marcas incluindo aquela outra batatinha famosa que é mais gostosa_ pronto falei!
Ward como era conhecido pelos mais chegados, trabalhou na Pepsico até os anos 1970 e depois e tornou um grande empresário e investidor com negócios ligados principalmente ao envase e distribuição de produtos da Pepsico no México. Além das franquias internacionais da Pepsi ele se também fundou duas companhias aéreas além de empresas ligas a produção de açúcar e criação de gado no Texas.
Suas inúmeras empresas o levaram à Argentina e em 1998 quando visitava a Patagonia Argentina, sua veia empreendedora o levou a adquirir um rancho produtor de carneiros que posteriormente foi convertido em um hotel direcionado aos amantes da pesca, da caça e da vida selvagem. Esse hotel se transformou em um dos amores de sua vida para onde ele sempre escapava depois de temporadas estressantes na América do Norte.
Em uma dessas “escapadas” pela argentina ele se deparou com a lindíssima paisagem de Mendoza no sopé da Cordilheira dos Andes. Mais do que pela paisagem, Ward que já era apaixonado pelas pessoas, se encantou pelos vinhos da Argentina. E em 2003 decidiu aliar suas duas paixões, o vinho e os investimentos e fundou no Vale do Uco a vinícola Andeluna.
Além de grandes vinhos tintos a vinícola produz, na minha modesta opinião, os melhores vinhos brancos da casta Chardonnay na Argentina, mas mais do que seus vinhos a bodega e seu restaurante por si só são um espetáculo sendo estes visita obrigatória para todos aqueles que visitam a região de Mendoza. Só tem um pequeno detalhe, normalmente seu restaurante exigem 6 meses de antecedência para as reservas, tamanha a procura.
Uma coisa posso lhes assegurar, a paisagem é tão bela que eu demorei muito tempo só para escolher duas ou três fotos para publicar aqui.
Apesar de todo o sucesso comercial de sua paradisíaca vinícola e de uma vida mais tranquila. Warden não parou de trabalhar voltou aos Estados Unidos e ao tempo de sua morte 2011 ele era o presidente e CEO de um fundo de investimentos que administrava negócios ligados ao mercado imobiliário, de óleo gás, agricultura, alimentos e bebidas, hotelaria, aviação, mercado financeiro, radiodifusão, internet e educação.
Cada um sabe de sua vida, mas se fosse eu tinha ficado com só com vinícola mesmo.
O QUE TEM NESSA ÁGUA?
A próxima história é parecida com a anterior. Noel Neelands começou a trabalhar em 1980 na empresa de climatização comercial fundada por seu pai no final dos anos 50 na província de Ontario no Canadá. Conheceu sua esposa Terry na faculdade e durante os próximos 40 anos ele e sua esposa transformaram a pequena empresa canadense em um grande negócio multinacional.
Em suas viagens de negócios, o casal se tornou amante dos bons vinhos, da boa comida (chegaram a fundar alguns restaurantes como side hustles) e das artes, onde ao longo do tempo acumularam uma grande coleção de obras criadas por artistas de todo o mundo. Em 2008 logo após o aniversário de 50 anos de sua empresa, Noel e Terry decidiram que precisavam tirar umas férias para recarregarem as baterias e o destino escolhido foi a Argentina.
Como nosso amigo “Ward” ali do texto cima, o casal foi de imediato arrebatado pela lindíssima paisagem Mendocina, com seus vinhedos cercados pela majestosa cordilheira dos Andes...Estava plantada ali a semente, com o perdão do trocadilho, do que viria ser uma das melhores vinícolas Argentinas da atualidade. Na verdade, as primeiras vinhas foram plantadas em 2009 quando compraram sua propriedade em Mendoza.
O casal canadense decidiu empreender no país dos “Hermanos”, após uma viagem aos Estados Unidos para cuidar dos interesses de sua empresa. Naquele ano o casal estava degustando um vinho no Napa Valley e percebeu que, na sua concepção, o Valle do Uco na Argentina era mais bonito que o famigerado vale californiano e seus vinhos eram tão bons quanto se não melhores. Seu sonho era produzir um vinho que recebesse a nota máxima de 100 pontos pela crítica especializada.
Produzir o melhor vinho possível, não era a única parte do sonho. Desde o princípio sua missão foi criar um espaço onde quem entrasse pudesse se desligar dos problemas do mundo, tomando uma, duas ou várias taças de vinhos. Além de degustar grandes vinhos, eles queriam que a vinícola fosse aberta aos viajantes e que esses pudessem também, apreciar sua grande coleção de obras de artes bem como peças de artistas locais.
Em 2014 contrataram o premiado escritório de arquitetura Bórmida y Yanzón, responsável por mais 30 projetos arquitetônicos de vinícolas mundo à fora, para desenharem sua bodega. O resultado foi, simplesmente, incrível. A galeria principal foi construída com uma pirâmide invertida, simbolizando a atração da energia solar para o projeto e atualmente a Solo Contigo Wines conta com a capacidade de produção de 120.000 litros de vinhos por ano.
Apesar de não terem conseguido, ainda, conquistar os 100 pontos (em 2021 seu vinho Rows Selection Malbec recebeu 96 pontos) no seu vinho, tampouco terem largado os outros negócios da família, os Neelands passam boa parte do ano realizando o sonho de muitos amantes do vinho que nos momentos de stress sempre pensam em largar tudo e ir produzir vinhos.
Ainda não dá, mas um dia chegamos lá.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para alguns desses vinhos e similares:
Saúde Amigos!
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