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A GRANDE DAMA DO CHAMPAGNE.


    Seu pedir para, nesse momento, você pensar em uma marca de bolsas femininas que seja um objeto desejo, caríssima e famosa...


    Tenho uma boa chance de ter acertado que a marca que lhe veio à mente foi a Louis Vuitton. Quem também faz parte do mesmo conglomerado francês de marcas de luxo é aquela champagne de rótulo amarelo que se pudéssemos tomaríamos todos os dias no café da manhã...


    Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, nesse post contarei a história de uma mulher que revolucionou a indústria do vinho e desenvolveu uma das marcas mais admiradas do mundo.


A GRANDE HISTÓRIA DE SUCESSO.


    Quando a jovem, Barbe-Nicole Ponsardin, com então 21 anos, se casou no verão de 1798, sua vida estava fadada ao destino de ser uma coadjuvante na história. Mesmo tendo nascido em uma família rica do ramo têxtil, as leis Napoleônicas do início do século XIX proibiam as mulheres de votarem, trabalharem, ganharem dinheiro ou entrarem em escolas e universidades sem o consentimento do marido ou do pai.


    Comum também eram os casamentos arranjados. Seu pai, querendo consolidar os negócios da família, quando Barbe-Nicole ainda era uma criança, combinou seu casamento com um garotinho chamado François Clicquot, filho de um grande banqueiro e comerciante de tecidos que, por acaso, tinha um “side business” de produção de vinhos na região da Champagne.


Vista dos vinhedos de Champagne em Reims, durante o verão.


    Após seu casamento, François se tornou sócio dos negócios de sua da família e passou a viajar pela Europa tentando vender seu produto, principalmente os vinhos e aos poucos foi obtendo algum sucesso. Passados alguns anos os outros ramos de atividade foram sendo descontinuados e o vinho se tornou o foco principal da família. Porém, em uma dessas viagem o ainda jovem empresário, com apenas 30 anos, foi acometido por uma grava doença, similar a febre tifoide e faleceu no ano de 1805.


    E foi aí que o rumo da história de Barbe-Nicole, agora a viúva Cliquot, ou “veuve” em francês, tomou um rumo inesperado.


    Devastado pela morte do filho, Philippe Clicquot anunciou a intenção de liquidar a empresa, mas a viúva de seu filho, sem nenhuma experiência com a administração de negócios, em uma atitude, no mínimo “ousada” para a época, decidiu assumir os negócios da família, o que foi aceito com muita resistência. Com 27 anos e mãe de uma filha de seis, Barbe-Nicole se tornou uma das primeiras (muito provavelmente a única da França) mulher a presidir uma empresa internacional.


    A Madame Clicquot se mostrou uma empreendedora ávida por inovações e com seu espírito inventivo, desenvolveu uma série de novos processos que revolucionaram o modo como os champagnes eram produzidos, muitos utilizados até hoje, e seus espumantes começaram a fazer um grande sucesso fora da França, principalmente com a nobreza Russa e em diversas outras cortes europeias. Sua produção era quase toda exportada. Com um sólido crescimento nas vendas, em 1810 a marca Veuve Clicquot-Ponsardin foi criada, mas viúva ainda teve um grande teste pela frente.


O famoso rótulo amarelo foi criado em 1877.


    Alguns poucos anos depois, a França, ainda lutando as guerras napoleônicas, passou a sofrer severos bloqueios comerciais, e os champagnes Veuve Clicquot já não mais conseguiam ser exportados, levando a empresa a beira da falência. Enquanto as outras Maisons de Champagne, praticamente pararam sua produção, em um movimento arrojado, apostando na iminente derrota francesa, a Madame Clicquot aumentou a sua produção e passou a estocar grandes quantidades de espumantes.


Palácio Hermitage em São Petesburgo, um dos principais destinos da Veuve Clicquot no inicio do século XIX.


    Com o fim dos bloqueios comerciais em 1814 e com Napoleão sendo enviado ao exílio, adivinhem com qual bebida, cheia de borbulhas, os Russos e os Ingleses comemoraram a vitória na guerra? E quem estava com um estoque abarrotado dessas deliciosas bebidas?


    Pois bem...O resto é uma bela história de sucesso que continua até hoje, passando por sua aquisição pela aquela famosa marca de bolsas (LV) em 1986. Seus feitos foram tão grandes e contribuíram tanto para o desenvolvimento da Champagne que recebeu a alcunha informal de “A Grande Dama” ou La Grande Dame de Champage.


Retrato de Madame Clicquot com sua neta.


    Seu legado foi muito mais que uma empresa com mais de 200 anos de história ou uma marca que vendeu dezenas de milhões de garrafas em 2020, a Madame Clicquot foi uma mulher que influenciou toda uma geração e quebrou preconceitos deixando sua marca na história da luta das mulheres por seus direitos e de certa forma, mesmo que indiretamente, inspirou a criação do Dia Internacional das Mulheres, que celebramos todos os anos.


Abaixo deixo alguns links no Amazon para os incríveis Champagnes Veuve Clicquot:


Saúde!

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