Algumas paisagens e experiências se tornam tão míticas que mesmo sem estar lá, só de observar uma foto ou focar seus pensamentos é como se pudéssemos sentir a temperatura, os cheiros e os sons daquele lugar. Feche os olhos e pense nos bangalôs de Bora-Bora, a vista de Nova York do topo do Empire State Building, a torre Eiffel observada de um café em Paris, uma caminhada as calçadas da praia de Copacabana em um quente dia de verão ou um lindo pôr do sol no meio dos vinhedos em alguma colina na Toscana.
Pela minha profissão, vocês podem imaginar qual seria minha preferida né? Sou suspeitíssimo para falar, porém muita gente que nem liga para os vinhos se deslumbra com a lembrança ou o sonho de um dia estar nos lindos campos da Toscana na Itália. E para quem gosta de vinhos então nem se fale. Além de belíssima e com uma história e cultura riquíssima é uma das melhores regiões produtoras de vinho do mundo. Faz parte do pequeníssimo grupo de locais dos quais seus vinhos conseguem rivalizar com os grandes franceses, sendo que alguns exemplares atingem preços estratosféricos tamanha procura e raridade.
Mas nem sempre foi assim...
Apesar de produzir vinhos desde antes dos romanos e algumas marcas terem quase um milênio de existência, lembrando que o Brasil, como um país, só tem 522 anos, a Toscana nem sempre foi conhecida pela qualidade de seus vinhos. Na verdade, até bem pouco tempo atrás seus vinhos eram bem ordinários, mas alguns visionários deslumbraram um futuro calcado na qualidade de seus produtos. Esse pilar, deveria ser alinhado ao turismo enogastrônomico e algumas décadas depois o sucesso dessa empreitada é inquestionável, com uma pequena vila se destacando ainda mais, virando a gema rara em uma joia já espetacular por si só.
Essa semana, continuando a série de newsletters para apresentar novos produtos que a Casavino está disponibilizando para vocês, vamos contar a história da vinícola Banfi, famosa pelo seu magnifico vinho Brunello di Montalcino e um espetacular hotel em um castelo na Toscana, ajudou a revolucionar a região e exportou todo seu know-how para nossos Hermanos argentinos.
FAMÍLIA BANFI
O Castelo Banfi, antes chamado de Poggio alle Mura, é uma fortaleza medieval com séculos de história. Construída no vilarejo de Poggio alle Mura na comuna de Montalcino em Siena dentro da região da Toscana. Ao longo de centenas de anos, esse castelo viu diversas batalhas, sendo destruído e reconstruído diversas vezes, inclusive após a segunda guerra mundial. Apesar de sua grande relevância bélica e histórica o local não era reconhecido pela qualidade de seus vinhos.
Diversas gerações de uma mesma família carregou o sobrenome Banfi e seguiram seus destinos ao longo da história até que em meados do século XIX um ramo da família imigrou para os Estados Unidos para o estado de Connecticut. No seio da família estava o jovem John F. Mariani que dado ao precoce falecimento de seu pai e a consequente deterioração da condição financeira de sua família, precisou voltar para a Itália em 1895 junto de sua mãe e cinco irmãos onde foram acolhidos por uma tia, chamada Teodolinda Banfi.
Linda, como era conhecida, foi camareira chefe do então arcebispo de Milão, Achille Ratti, que futuramente viria a se tornar o Papa Pio XI. A tia e John era uma mulher culta e contribuiu imensamente para sua educação, contribuindo em diversos campos, porém um dos assuntos favoritos do jovem era discutir com ela quais vinhos e o porquê cada um seria escolhido para ser servido durante os jantares e reuniões eclesiásticas na residência do Cardeal.
Conta-se que John junto de sua tia pode visitar e conhecer os segredos da Adega do Vaticano (bom tópico para uma futura Newsletter). Tais conversas sobre vinhos, moldariam o futuro empreendedor de John. Já adulto, John resolveu voltar aos Estados Unidos e em 1919 fundou em Nova York, no coração da Little Italy, uma pequena adega, com a intenção de vender vinhos trazidos da Itália e em homenagem a sua tia deu o nome de Banfi Vinters.
Mas como já vimos aqui anteriormente, a vida e empreendedor nunca é fácil e apenas um ano depois, o impensável ocorreu... Os americanos instituíram em seu país a Lei Seca, a qual proibiu a produção e consumo de álcool em seu território. Ele se adaptou e perseverou. Sendo que nos anos que se seguiram focou em vender temperos e especiarias importados da Itália, bem como na fabricação de um bitter medicinal que era permitido. Esses produtos mantiveram a empresa viva por 13 anos, até que com a perspectiva de queda da proibição, John não perdeu tempo. Comprou uma passagem para a Europa e visitou vinícolas na Itália, França e Alemanha onde passou a trazer grandes vinhos para os Estados unidos, que até então não estavam disponíveis para o público em geral.
O FILHO PRÓDIGO
Apesar do sucesso, a Banfi Vinters continuava um negócio relativamente pequeno, nas mãos de John Mariani, mas quando seu filho John F. Mariani Junior assumiu a empresa as coisas deslancharam. Após se formar na universidade, John Junior passou dois anos na Europa estudando viticultura em diversos países e quando retornou iniciou um projeto ao lado de seu irmão Harry que mudou a sorte da empresa.
Apesar de já importarem e distribuírem grandes vinhos, como Bordeauxs, Borgonhas e Barolos, os irmãos vislumbram a ideia de que o americano médio não estava muito acostumado com o paladar seco desses vinhos e em 1967 trouxeram um primeiro carregamento de Lambruscos italianos para os Estados Unidos. Como os Americanos gostavam de bebidas doces como sucos e refrigerantes, o Frisante Lambrusco mais adocicado foi um sucesso imediato.
Pelos próximos 25 anos o Lambrusco Riunite foi o vinho mais importado para os Estados Unidos, e até hoje figura entre os mais vendidos naquele que é o maior mercado por volume do mundo. Vocês podem imaginar quanto dinheiro a Banfi Vinters fez nesse período. E calcado nesse sucesso financeiro, John Junior passou a planejar e implementar seu grande sonho, que até então parecia impossível: revitalizar os vinhedos e tornar o Castelo Banfi na Toscana um dos melhores produtores de vinhos do mundo.
BRUNELLO DI MONTALCINO
Como eu já havia mencionado, apesar de produzir vinhos a milênios a comuna de Montalcino não era exatamente um sinônimo de qualidade até algumas décadas atrás. Na Toscana uma variedade de uva típica da Itália chamada Sangiovese produzia o vinho Chianti, que no final dos anos 70 eram vinhos bem medíocres, muitas vezes vendidos à granel ou em garrafões enrolados em palha praticamente sem nenhuma informação do produtor que o criava.
A exceção era um vinho raro, quase mítico, chamado Brunello de Montalcino, que basicamente era produzido por um único produtor chamado Biondi-Santi. Após readquirir a propriedade do Castelo de Poggio alle Mura, na comuna de Montalcino, província de Siena, e o rebatizarem com o sobrenome da família. Em 1978 os irmãos John Mariani Jr e Harry passaram a investir nas terras que os circundavam, plantando novos vinhedos e modernizando sua uma vinícola com o sonho de produzir um Brunello de igual qualidade o superior ao de seu concorrente e em maior escala para que muitas outras pessoas o pudessem degustar.
O problema é que como as uvas lá não eram grande coisa, isso não seria uma tarefa fácil. Contrataram uma grande equipe de engenheiros agrônomos e enólogos e começaram a fazer experiências com clones da uva Sangiovese, buscando aprimorar a qualidade de sua matéria prima. Começaram com 160 clones e foram filtrando até chegarem em 15. Cada resultado era compartilhado com os outros produtores da região para que toda a região pudesse evoluir como um todo. O clone final escolhido foi o da Sangiovese Grosso e o uso dessa variedade inaugurou uma nova era para região fazendo com que hoje o vinho Brunello di Montalcino seja um dos vinhos mais premiados e desejados de todo o mundo.
Mesmo com diversos produtores fazendo esse vinho a Castello Banfi se destaca como um dos melhores, recebendo por 5 vezes a honraria de vinícola do ano e por 13 vezes como a melhor vinícola da Itália. Além dos grandes Brunellos a Banfi foi uma das pioneiras em plantar e produzir vinhos na Toscana a partir de castas francesas como a Cabernet Sauvignon e a Merlot, movimento esse que ficaria conhecido no futuro como os vinhos Super Toscanos.
BANFI WINE RESORT
Nesse meio tempo os negócios nos Estados Unidos continuavam a prosperar e em 1988 a Banfi Winter conseguiu a licença para distribuir em solo americano os vinhos da Concha Y Toro em uma época em que os consumidores por lá começavam a descobrir e se encantar pelos vinhos Chilenos. Mais um estrondoso sucesso para empresa que em 1997 já vendia mais de um milhão de caixas de vinhos dessa marca. Com mais essa geração de caixa incrível a terceira geração da família pode iniciar um novo projeto em seu lindo castelo.
Atualmente sob a batuta da filha de John Mariani Jr., Cristina Mariani-May a Banfi Vinters que é, dentre outras coisas, “só” a maior importadora de vinhos dos Estados Unidos decidiu apostar em uma nova fronteira para seus negócios. Diante de todo potencial turístico da Toscana, eles conceberam o plano de não apenas terem alguns dos melhores vinhos do mundo, mas também em transformar Montalcino em um destino de referência em hospitalidade com uma multi experiência imersa em um dos lugares mais bonitos do mundo.
Com uma enoteca / winebar, um museu de garrafas, uma adega de aceto balsâmicos, passeios pelas vinícolas, uma taverna informal que serve culinária tradicional local e um restaurante com estrela Michelin para refeições requintadas, uma simples visita ao castelo já seria um momento incrível por si só, porém a joia da coroa de todos os empreendimentos da família é recente Hotel Castello Banfi – Il Borgo.
Um projeto acompanhado de corpo e alma por Cristina desde a sua concepção, supervisão e desenvolvimento, onde foi criado um hotel de luxo com 14 quartos situado ao lado das muralhas medievais do castelo e contribuindo com a visão de sua família de tornar Montalcino um dos destinos mais procurados do mundo.
BODEGA CINCO TIERRAS
Encantado com o potencial do terroir de nossos vizinhos, Rúben Banfi, um dos descendentes da família, juntou sua esposa e filhos e fundou em Vistalba, na região de Luján de Cuyo, no coração de Mendoza na Argentina sua própria vinícola. O novo projeto tinha o intuito de, munido com toda a tradição de sua família, elaborar artesanalmente vinhos orgânicos, com colheita manual e sem nenhum tipo de agrotóxico ou agente químico. Por coincidir com o nome da sede da empresa nos Estados Unidos, Banfi Vintners, Rúben não poderia utilizar seu nome no mercado norte-americano, optando assim por criar um nome diferente para sua vinícola argentina.
Em 2000, nasce a vinícola Cinco Tierras e nos anos posteriores elaborou os primeiros Reserva Malbec, Cabernet, Reserva Família e Malbec Varietal. Cinco anos depois, concretizou a compra de 25 hectares de vinhedos em Agrelo. Durante essa etapa contou com a consultoria técnica do prestigiado enólogo Héctor Durigutti, que também foi enólogo da prestigiada vinícola Altos Las Hormigas e algumas décadas depois desembarca aqui nos estoques da Casavino o surpreendente vinho Sorbus Malbec.
Na minha modesta opinião um dos melhores custo-benefício do mercado. Um vinho de custo muito acessível com muita personalidade, sabor e que carrega muita história em seu DNA. Uma excelente opção para noivos e noivas que queiram servir um excelente vinho em sua festa ou até mesmo para tomar em casa no dia a dia.
Convido a todos para experimentarem esse bel exemplar e desejo uma ótima semana à todos. Saúde.
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