Apesar de, normalmente, lembrarmos dessa passagem somente no Natal, mesmo quem não é cristão, dificilmente não conhece a história do nascimento de Jesus Cristo. Falando Nele, diz a bíblia que em sua vida adulta Jesus tomava um vinhozinho, inclusive um de seus milagres mais famosos foi transformar a água em vinho. Não o julgo!
Mas voltando a história de seu nascimento, um momento marcante é a chegada dos três “reis” magos que, guiados pela estrela de Belém, chegaram ao local de nascimento de Cristo para lhe prestarem homenagem e lhe entregarem presentes. Não sei dizer se Melchior, Baltasar e Gaspar gostavam de vinho, mas alguns milênios depois, seus nomes, bem como os de outros personagens bíblicos, inspiraram uma faceta bem curiosa do mundo dos vinhos. O nome dos diferentes tamanhos das garrafas onde são armazenados os vinhos.
Aqui no Brasil, estamos acostumados com as garrafas de tamanho padrão com 750ml de volume, e esse formato é também o mais utilizado mundo a fora, mas na Europa é muito comum a utilização de garrafas maiores. Existem também, formatos gigantes que chegam a 30 litros de vinho, como o caso da garrafa chamada de Melquisedeque, utilizada na região de Champagne e batizada em homenagem ao rei de Salém citado no livro do Gênesis.
Aqui na Casavino, nosso vinho mais vendido é comercializado em uma garrafa de um litro e temos uma grande procura por formatos menores para comporem presentes para os padrinhos, mas o interessante das garrafas maiores é que além de servirem mais convidados o vinho evolui melhor em seu interior ao longo do tempo, sendo uma excelente opção para aqueles que queiram guardar um vinho por mais tempo para desfrutar de toda a complexidade de aromas e sabores que só um vinho antigo pode oferecer.
No post dessa semana vou apresentar alguns formatos de garrafas com volumes diferentes do tradicional, bem como algumas curiosidades, seus usos e vantagens e desvantagens de cada tipo de garrafa.
A TERRA ERA SEM FORMA E VAZIA
O advento do uso de garrafas de vidro foi um grande game changer para o comércio e consumo de vinhos, mas nem sempre foi assim. As garrafas para vinhos têm suas origens na Europa, com sua utilização mais antiga datando do século IV a.C. na Grécia antiga. Na época, as garrafas eram feitas de cerâmica ou de partes de animais.
Durante a Idade Média, as garrafas de vidro começaram a ser utilizadas, mas eram caras e frágeis, e eram utilizadas principalmente pelas classes mais ricas. Antes de sua adoção em larga escala, os vinhos eram comercializados em barris e toneis de madeira e sua deterioração acontecia de forma acelerada, porém com o desenvolvimento de novas técnicas fabris o vidro foi se barateando e passou a ser utilizado, mas comumente para o transporte e comercialização de vinhos.
A grande vantagem da garrafa de vidro é que ela, aliada à rolha de cortiça, permite com o que vinho preserve suas características organolépticas por mais tempo sem sofrer interferência de sabores e aromas como ocorre com o contato com a madeira, por exemplo. Outro aspecto importante e que seu formato e, consequente armazenamento em caixas, permitiram uma optimização do espaço utilizado no transporte em navios facilitando o frete.
Por fim, o uso das garrafas de vidro permitiu com que os consumidores adquirissem uma fração mínima de um tonel e levassem o vinho para casa com um custo acessível, massificando assim o seu consumo.
SETECENTOS E CINQUENTA ML
Ao longo do tempo diversas regiões vinícolas foram desenvolvendo seus formatos de garrafas, notavelmente os produtores na França, com suas garrafas bordalesas, borgonhesas, alsaciana, dentre outras, cada uma projetada especificamente para preservar as características do vinho e/ou apresentá-lo de forma adequada, entretanto isso é tema para outra newsletter. O que se tornou quase que um convenção de fato, foi a adoção de garrafas com 750ml de volume como padrão.
O porquê desse padrão é um pouco controverso. Uma versão mais lúdica, diz que 750ml era a capacidade pulmonar dos antigos sopradores de vidro que faziam as primeiras garrafas e assim sendo, esse se tornou o padrão. Outras fontes dizem que em Portugal um antiga unidade de medida era a canada que representava cerca de 1,5litro e que um trabalhador nos vinhedos recebia meia canada ou 750ml de vinho por dia como forma de pagamento e esse se tornou o padrão. Há quem diga que 750ml é rendimento de um quilograma de uvas em vinho. A versão mais aceita e a qual eu acredito, originou-se na eterna divergência entre o sistema de medidas britânico e o sistema métrico.
Os ingleses sempre foram grandes importadores de vinhos franceses, sendo que os britânicos utilizavam o galão imperial como a principal unidade de medida volumétrica. Um galão imperial equivalia a 4,546 litros. Para facilitar a conta os franceses passaram a vender seus vinhos em caixas com 6 unidades de 750ml o que representava um galão e 50 caixas resultavam em 225 litros, exatamente o conteúdo de um barrica de carvalho comumente usada em Bordeaux.
Apesar de 750ml ter se tornado o volume padrão para as garrafas de vinhos, outros tamanhos foram surgindo ao longo do tempo. É importante notar que, como regra geral, quanto maior a garrafa, maior será a expectativa de vida útil do vinho e menor será a relação entre a superfície do vinho exposto e o volume de ar no recipiente, o que é importante para vinhos envelhecidos e de alta qualidade.
OS ANTIGOS REIS
Os mais conhecidos tipos de garrafa por volume, são a meia garrafa que possui 375 ml, a garrafa baby que possui 187ml (ou 200ml no caso dos espumantes) e a garrafa Magnum que possui 1500ml o equivalente a duas garrafas de tamanho padrão. Daí para frente meu amigo ou amiga a coisa fica mais complicada...
Abaixo deixo uma lista com os nomes e volumes das garrafas de tamanhos exóticos com uso comercial:
Muitos nomes da lista acima são de personagens bíblicos, incluindo dois dos três reis magos, Baltasar e Melchior, mas como no caso das primeiras garrafas e 750ml não se sabe ao certo o porquê da escolha dos nomes. Talvez por conferir maior longevidade aos vinhos, as garrafas de maior volume foram batizadas com nomes de personagens bíblicos que viveram muitos anos como o patriarca Matusalém que teria vivido por 969 anos e empresta seu nome para o formato de garrafas com 6 litros de capacidade.
O que a maioria dos estudiosos concorda é que o nome Jeroboam, já era utilizado no inglês arcaico para designar um grande pote de vidro. Quando uma marca de champagnes decidiu produzir uma garrafa especial com 3 litros para o mercado inglês, a maison decidiu utilizar esse nome para designar sua criação. Dado o sucesso, outros produtores quiseram superar seus rivais e criaram garrafas ainda maiores e utilizaram nomes bíblicos, simplesmente para “ir no embalo”.
Atualmente a maior garrafa de vinho que se tem notícia foi fabricada para um restaurante na Áustria e em 2017 foi preenchida com 1590,00 litros do vinho austríaco Keringer Wineries 100 Days Zweigelt e conquistou o recorde de maior garrafa de vinho do mundo. Porém o desfecho dessa história não foi nada agradável.
Após mudanças de temperatura e pressão o vinho acabou vazando e os bombeiros locais com receio de uma rachadura na garrafa, temendo pela segurança da comunidade, decidiram por esvaziar a garrafa. O vinho restante foi enviado de volta a vinícola e após passar por degustações e testes de qualidade foi engarrafado novamente em, adivinhem só.... nas boas e tradicionais garrafas de 750ml.
Que possamos nesse ano tomar muito vinho, sejam em garrafas pequenas ou gigantes.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para vinhos em garrafas de volumes diferentes:
Saúde amigos!
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