Uma das coisas que me fascinou, quando iniciei a minha carreira no mundo dos vinhos, foram as histórias acerca desse universo que me eram contadas e faziam, na verdade fazem até hoje, os meus olhos brilharem. Para um garoto de 17 anos, vindo de uma família de classe operária, aqueles contos sobre as nobres famílias que produziam vinhos há séculos e como algumas pessoas se esbaldavam com essa bebida fizeram surgir um mundo novo de possibilidades à minha frente.
Uma história que eu adorava repetir para os clientes que vinham à loja em que eu atendia era a de um determinado vinho, o qual a vinícola era de propriedade do mesmo dono da fabricante dos caças Mirage e dos jatos executivos Falcon e que quando alguém comprava seus jatos ele presenteava o cliente com uma caixa daquele determinado vinho.
É obvio que no auge do “enorme” conhecimento de um rapaz que tinha recém atingido a maioridade, eu nem tinha ideia do que era um jato Falcon, tampouco imaginava qual o seu valor e que aquela caixa de vinho representava uma fração mínima do valor do avião, mas repetia essa história para todo mundo confiando que o gesto de tal viticultor era um atestado da qualidade do produto que eu gostaria de vender.
Quase duas décadas depois, essa história voltou a minha mente, mas dessa vez resolvi pesquisar quais são as bases da estória e me deparei com a história de um empreendedor incrível que era amante dos bons vinhos e das belas artes, que com sua engenhosidade revolucionou a aviação e de brinde nos eixou alguns grandes vinhos para provarmos nos nossos jatos Falcon.... não pera ainda não cheguei nesse nível, mas espero que você, meu leitor, já tenha chego...
O CHÂTEAU DASSAULT.
Em 1953 o magnata da indústria aeroespacial francesa, Marcel Dassault celebrava o lançamento de seu novo caça o Mirage 3, um avião revolucionário com asas no formato delta. O mundo inteiro foi conferir a nova máquina de guerra e “por acaso” a fábrica onde eram fabricados os caças, ficava na cidade de Bordeaux na França, a “Meca” do mundo dos vinhos. Marcel percebeu que o interesse pelos vinhos locais rivalizava com seu avião a atenção dos convidados, principalmente os estrangeiros.
Foi então que uma ideia começou a povoar a sua mente inquieta de empreendedor. Ele precisava ter um Château que além de muito belo, produzisse um grande vinho e que ele pudesse levar a esse local seus convidados importantes para que a atmosfera da vinícola e a qualidade dos produtos encantasse seus visitantes e que esse encantamento lhe ajudasse a fechar a venda de seus míticos aviões.
Pouco tempo depois pediu que seus assessores lhe encontrassem um Château disponível para a venda e em 1959 comprou, totalmente por impulso a primeira vinícola que lhe apresentaram, o então Château Couperie. Marcel deu seu nome a propriedade e fundou o Château Dassault, entretanto, apesar de estar localizado na famosa área de Saint-Emilion, os vinhos ali produzidos não eram exatamente um sinônimo de qualidade. Foi preciso quase uma década de constantes investimentos em replantio de vinhedos, maquinários e novas tecnologias de produção para que esses esforços fossem traduzidos em um vinho de grande qualidade.
O reconhecimento veio em 1969 com a promoção do Château Dassault ao rank de Grand Cru Classé e dali em diante, primeiro com seu filho Serge e depois com seu neto Laurent os domínios do Château foram se expandindo e foram lançados novos vinhos, sendo o braço vinícola do grupo Dassault, atualmente, um dos maiores produtores da região.
O GRANDE ENGENHEIRO.
Já conhecemos a história do vinho, mas igualmente impressionante é a história do homem por de trás dele. Nascido em Paris no final do século XIX, a vida de Marcel Dassault foi marcada por conquistas e feitos impressionantes, fruto de muita dedicação e espírito empreendedor de um homem que teve de ser resiliente e adaptável diante do maior desafio do mundo em seu tempo: A guerra.
Seu nome de batismo era Marcel Ferdinand Bloch, filho de um médico judeu, recebeu boa educação quando criança e muito jovem se formou engenheiro elétrico, sendo que um dos seus colegas de classe foi o russo Mikhail Gurevich, o qual algumas décadas depois ajudaria a criar mítica classe de aviões, os caças MiG. A curiosidade aqui é que o pai de Mikhail era mecânico em vinícola. Quem sabe o interesse de Marcel pela produção de vinhos não tenha nascido das conversas com o russo? “Connecting The Dots” (Se você não conhece esse discurso do Steve Jobs, vale a pena ouvir.)
Foco na história Kaye...
Após sair da faculdade o jovem Marcel foi trabalhar para um laboratório de aeronáutica onde ajudou a desenvolver os aviões usados pela França durante a Primeira Grande Guerra e em 1928 fundou sua empresa que produziu seu primeiro avião em 1930. Alguns anos mais tarde incorporou a fábrica de aviões da região de Bordeaux, porém nesse mesmo ano estourou a Segunda Guerra Mundial, a França foi invadida pelos nazistas e a industrial aeronáutica francesa foi dizimada. Em 1940 Marcel se recusou em cooperar com os nazistas e foi preso. Em 1944 foi deportado para um campo de concentração na Alemanha, onde foi espancado, torturado, mantido em solitária e sofreu muito até ser libertado pelas forças aliadas em abril de 1945.
Ao retornar a Paris ele estava tão debilitado que os médicos o desenganaram e orientaram-lhe a redigir seu testamento pois não se recuperaria dos ferimentos. Ele não desistiu de sua vida, recompôs sua saúde e começou a formar seu império. Em 1949 mudou seu sobrenome de Bloch para Dassault como uma homenagem à seu irmão que lutou na resistência francesa e utilizava o nome de guerra de char d'assaut que significa tanque de guerra em francês.
Após tanto sofrimento Marcel Dassault, passou a cultivar um grande interesse pelas coisas boas da vida. Além do negócio principal na indústria aeronáutica, adquiriu uma casa de leilão de artes, diversas propriedades luxuosas em Paris e o famigerado Château. A fortuna da família Dassault, somando todos os ramos de negócios em que atua, inclusive os vinhos, é estimada em cerca de 25 bilhões de Euros.
Por sua contribuição na história da aviação, bem como na indústria aeroespacial, Marcel foi empossado no Hall da Fama Internacional do Ar e do Espaço em 1973. Marcel faleceu em 1986 aos 96 anos nos arredores de Paris mas seu legado na aviação e no mundo dos vinhos ficará marcada para sempre na história.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para alguns vinhos similares:
Saúde amigos!
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