Desde a primeira vez que vi o vídeo do Steve Jobs sobre a teoria do Connecting The Dots (já falei dela por aqui em outra ocasião e vale a pena dar uma “googlada”, caso você não tenha assistido) fiquei com aquelas palavras na cabeça e ao preparar esse texto sobre as novidades desse mês na Casavino, mais uma vez as conexões ao longo da minha vida se mostraram presentes.
Quando comecei a Casavino ao lado do meu sócio Marcos em 2017 contamos com a ajuda de nosso colega Bruno que importa, dentre outros produtos, os vinhos produzidos pela família Ferrer no Chile. Naquele momento eu não sabia, mas esse era um ramo da mesmo família que controlou por quase dois séculos a vinícola espanhola Freixenet, a qual produz grandes espumantes e passamos a comercializar algumas linhas recentemente.
Dando alguns passos atrás, para mostrar como os pontos se conectam, apesar de minha descendência japonesa e italiana, com destaque para os olhos puxados, eu sempre me interessei pela cultura alemã, talvez influenciado pela minha mãe (beijo mamãe, sei que você está lendo esse texto e provavelmente é quem irá revisá-lo), a qual estudou alemão na juventude e falava algumas palavras em casa quando conversava comigo.
Durante a pandemia, inclusive, com bastante tempo livre, passei a me dedicar a duas novas atividades, estudar a língua alemã e fazer pão. Acredito que muitos de vocês também se entregaram a “Pãodemia” e mesmo quem não costuma cozinhar, provavelmente, já se deparou com algum produto da marca alemã Dr. Oetker, seja fermento para pães e bolos, gelatinas em pó ou outras sobremesas.
O que uma marca de fermentos de bolo tem a ver com os espumantes e vinhos com os quais trabalho hoje em dia?
Tudo!
Nessa semana contarei a história de como a família alemã Oetker se tornou dona da marca Freixenet e apresentarei alguns dos novos produtos que a Casavino, orgulhosamente, passa a comercializar.
O DOUTOR OETKER
Em um vinho ou espumante o principal “milagre” da natureza é transformação do açúcar das uvas, através das leveduras, um organismo da família dos fungos, em álcool e gás carbônico. Nos pães e bolos as leveduras, transformam os açucares dos cerais em álcool etílico e dióxido de carbono. O problema enfrentado por quem fosse fazer um pão antes de meados do século XIX é que esse processo de fermentação dependia, basicamente, de um “milagre”.
As donas de casas e padeiros contavam somente com as leveduras presentes na natureza para conseguir com que seus cereais fermentassem e elas não são muito confiáveis para essa tarefa, uma vez que sua concentração pode variar muito de um ambiente ou ingrediente para o outro. Uma fermentação pode levar um semana ou mais e as vezes nem funcionar. Algum sucesso podia ser obtido usando culturas de leveduras de outras indústrias, como a cervejeira, ou usando processos químico arcaicos, que não eram facilmente replicáveis.
Foi somente por voltado ano de 1843 que um químico inglês inventou uma mistura de bicarbonato de sódio com ácido tartárico que induzia a fermentação dos pães sem a necessidade de leveduras, motivado por uma alergia de sua esposa ao fermento natural. Com sua invenção uma pessoa podia produzir pães de uma forma rápida e regular, sem a necessidade de esperar muitos dias para que a natureza fizesse sua mágica. Apesar de revolucionária, o inglês Alfred Bird disponibilizou sua invenção somente ao exército britânico e à exploradores, sem ao menos patentear sua invenção.
Vendo ali uma oportunidade comercial em 1890 um farmacêutico alemão chamado August Oetker, então com 28 anos, desenvolveu seu próprio fermento químico, mas diferente do químico inglês ele passou a vender seu fermento diretamente para as donas de casa alemãs, o que se provou um grande sucesso. Sob o nome de Dr. Oetker's Baking Powder ou apenas "Backin", com um marketing muito bem-feito o produto vendeu tanto que já em 1900 August criou sua primeira planta fabril para a produção em massa do fermento e por volta do ano de 1906 o produto vendia em média 50 milhões de pacotes.
O fermento químico trouxe fortuna à família e a mesma receita é usado até hoje. Com novas linhas de produtos, a segunda geração expandiu internacionalmente, chegando no Brasil na década de 1930 e estabelecendo em São Paulo no ano de 1954 uma de suas primeiras fábricas internacionais. Durante sua história aqui no país, foi comercializada com diversas barcas: “Cabeça Branca”, posteriormente “Otker”, depois passou a adotar o sobrenome de seu fundador “Oetker”, até chegar à marca atual “Dr. Oetker”.
A fortuna da família Oetker à levou a investir ao longo de mais de um século, em diversos negócios, incluindo um banco de investimentos, indústria química, cervejarias, hotéis (Incluindo o belíssimo Palácio Tangará em São Paulo), logística e desde 1958....Vinhos e espumantes!
HENKELL & CO. SEKTKELLEREI
Adam Henkell era filho de um comerciante quem em 1832 fundou uma loja de vinhos em Mainz na Alemanha. Inicialmente, comercializava vinhos tranquilos das regiões de Rheinhessen, Rheingau e outros vinhos alemães, mas inspirado pelo sucesso de vendas dos Champagnes franceses e do conhecimento que produtores na atual Eslováquia estavam conseguindo produzir espumantes fora da França decidiu por criar sua própria fábrica de “champagnes”.
O negócio de espumantes prosperou a paços lentos, até que seu neto Otto Henkell assumiu a fábrica de “Champagnes” em 1892. Após estudar administração de empresas na Antuérpia e ter servido voluntariamente no exército Alemão por um ano, passou algum tempo em Londres e depois em Nova York, onde aprendeu valorosas lições de marketing dos americanos, que à época já era muito mais agressivo que as práticas europeias.
Munido dessas ideias inovadoras de marketing, ao assumir a fábrica de espumantes, decidiu de criar um produto de marca própria e lançá-lo no mercado sob a marca "Henkell Sect Dry". Em 1894 iniciou as primeiras campanhas publicitárias e já com um bom interesse do público em seus produtos, deu o próximo passo em 1899 ao anunciar a marca “Henkell Trocken” e passou anunciar os espumantes intensamente em revistas semanais com peças de lindo design artístico. O impacto foi enorme e trouxe um bom crescimento para a empresa levando-a ser líder de mercado pouco tempo depois.
Ao longo das próximas décadas, após as grandes guerras a Henkell foi adquirindo diversas outras vinícolas dentro e fora da Alemanha se tornando um grupo com grande faturamento, até que 1986 após uma longa disputa judicial quanto a herança da empresa, o Grupo Oetker, que já havia adquirido a fábrica de espumantes concorrente Söhnlein Rheingold Sektkellerei em 1956, comprou o grupo Henkell aglutinando outras marcas adquiridas ao longo do tempo transformando-o em um bilionário conglomerado de bebidas.
FREIXENET
A Freixenet é a maior produtora de espumantes concebidos pelo método Champenoise, o mesmo do champagne, do mundo. Na Espanha, os espumante feitos na região da Cataluña com esse método, são chamados de Cava. Sendo também a maior exportadora de Cavas da Espanha a Freixenet é um gigantesco sucesso comercial, sendo que ela galgou esse resultado através dos séculos. Para se colocar em perspectiva, o Brasil foi descoberto em 1500 e a fazenda de La Freixeneda já produzia comercialmente em meados do ano 1100.
No final do século XIX, Dolores Sala Vivé, neta de um viticultor catalão se casou Pedro Ferrer Bosch, dono da fazenda La Freixeneda e um ancestral da família Punti-Ferrer que produz os vinhos da Cantagua no Chile os quais comentei na introdução do texto. Da mesma forma que o senhor Henkell na Alemanha, inspirados pelo sucesso das champagnes francesas, os Sala-Ferrer decidiram replantar todos os vinhedos da família com videiras de uvas próprias para a produção de espumantes.
Depois de um relativo sucesso na primeira metade do século XX a, já rebatizada, Freixenet lançou em 1941 o seu produto de maior renome a Cava Demi Sec Carta Nevada e na década de 70 a versão Brut Cordon Negro que explodiu em vendas internacionalmente, principalmente nos Estados Unidos. Com o grande faturamento conquistado, a vinícola iniciou sua expansão adquirindo vinícolas em outras regiões da Espanha, nas Américas e na Austrália.
Em agosto de 2018 a Henkell & Co. Sektkellerei, empresa do grupo Oetker, adquiriu o controle do grupo Freixenet e a empresa resultante a Henkell-Freixenet somou a experiência de diversos produtores de espumantes, mantendo as linhas clássicas e desenvolvendo novos produtos como o Freixenet Prosecco e Asti feitos na Itália além de vinhos tintos, brancos e rosés produzidos na Rioja, Toscana e diversas outras regiões da Europa.
Após a conexão de muitos pontos ao longo do tempo são esses espumantes e vinhos que a Casavino orgulhosamente passa a comercializar proporcionando aos nossos clientes e seus convidados, muito mais do que apenas bebidas saborosas, mas séculos de tradição, requinte e sofisticação.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para os maravilhosos produtos da Freixenet:
Saúde Amigos!
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