Olá, amigos! Essa semana escrevo mais uma vez para contar a história de uma novidade em nosso portfólio de vinhos tintos. Falando em escrever, dia 25 de julho é celebrado o Dia do Escritor aqui no Brasil e nossa bela língua portuguesa é muita famosa por seus grandes autores. De Camões à Laurentino Gomes, temos grandes nomes da literatura mundial, como: Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Jorge Amado, Lima Barreto, Mario de Andrade, Graciliano Ramos e por que não o autor em português mais traduzido de todos os tempos, Paulo Coelho?
Enfim, podemos listar inúmeros outros grandes nomes, mas você sabia que somente um escritor em língua portuguesa foi galardoado com o Nobel de Literatura? Foi o escritor português José Saramago em 1998. E o que um dos maiores escritores de todos os tempos têm a ver com o mundo dos vinhos? Nada! Nem sei se ele tomava vinho, porém seu sobrenome é compartilhado com um dos melhores enólogos de Portugal. Um lenda da enologia mundial, que ao longo de sua carreira criou diversas inovações e contribuiu muito para o sucesso de um ícone daquele país: O Periquita!
Se você riu, o espírito da 5° série habita em ti! Rsrsrsr...
Além de um nome engraçado, para nós brasileiros, o vinho Periquita tem muita história. É o vinho de mesa mais antigo de Portugal e foi um dos primeiros a ser engarrafado. Foi por muito tempo o vinho fino mais vendido aqui no Brasil, ganhou diversos prêmios internacionais e fundamentou o desenvolvimento de um dos maiores grupos vitivinícolas portugueses. Apesar de não ser o tema fundamental de nossa newsletter dessa semana, esse vinho foi o pilar na trajetória de nossa personagem principal e por conta disso vou dedicar alguns parágrafos para contar essa bela história.
JOSÉ MARIA DA FONSECA
José Maria da Fonseca nasceu em 31 de maio de 1804 próximo a região do Dão em Portugal e após formar-se bacharel em matemática na Universidade de Coimbra, ele se estabelece em Vila Nogueira de Azeitão, onde em 1834, funda a empresa com o seu nome. Em sua propriedade chamada Cova da Periquita, plantou as primeiras videiras da uva Castelão e o vinho produzido ali rapidamente se mostrou o melhor da região e muitos clientes passaram a pedir o “vinho da Periquita”. Em 1850 José Maria da Fonseca engarrafou pela primeira vez aquele que se tornaria o seu vinho de maior sucesso.
Hoje parece banal, mas àquele tempo não era comum aos produtores portugueses engarrafarem seus vinhos. A maioria dos produtores vendia o vinho a granel em grandes toneis. Em seu pioneirismo ele já sabia que ao engarrafas seus vinhos ele evitaria que houvesse adulterações no produto e ao adicionar também um rótulo bonito e elegante conseguiria aumentar a percepção de qualidade à sua marca, dessa forma pediu que um artista francês desenhasse o rótulo, importou suas garrafas da Inglaterra e comprou suas rolhas de uma empresa Catalã. Tudo isso, somado à um vinho de ótima qualidade, fez com que o vinho periquita ganhasse inúmeros prêmios internacionais no final dos anos de 1800.
José Maria da Fonseca foi um homem que sempre apostou na cultura do desenvolvimento. Foi condecorado em 1975 pelo Rei D. Pedro V pelas “instalações vinárias do senhor Fonseca em reconhecimento pela sua modernidade, asseio e eficiência" e apesar de o vinho Periquita ter sido seu maior sucesso, não foi o único. Ganhou diversos prêmios com seu Moscatel de Setúbal e o vinho Palmela. Quando faleceu em 1884 deixou um legado de a qualidade e pioneirismo em seu negócio de família, calcado na inovação, que fez com seus produtos chegasse, hoje em dia em mais de 70 países.
A PERIQUITA SOLTINHA NO BRASIL
Após a morte de seu fundador a empresa José Maria da Fonseca continuou a crescer e no final do século XIX, após ter ganho inúmeros prêmios na Europa, os representantes da vinícola iniciaram um tour nas américas para apresentarem seus produtos. O vinho Periquita ganhou medalhas de ouro nas exposições internacionais de Buenos Aires, São Francisco e 1908 foi medalha de ouro na Exposição Internacional do Rio de Janeiro encantando os convidados e abrindo uma janela de oportunidades únicas para o negócio.
Em 1920 o vinho Periquita chegou comercialmente ao Brasil e o sucesso foi estrondoso. As exportações dos vinhos da vinícola para o Brasil bateram a marca de um milhão de garrafas por ano. A enorme demanda fez com que a empresa tivesse de investir em terras e vinhas tanto na sua região de origem quanto em municípios vizinhos. Porém, os problemas de nosso país não começaram ontem. Uma grave crise econômica que se abateu no Brasil no final dos anos 1920 e por estar altamente dependente do mercado brasileiro a vinícola produtora do vinho Periquita padeceu.
O golpe em suas finanças foi tão grande que a José Maria da Fonseca teve que se desfazer de boa parte de seu patrimônio nos anos seguintes para arcar com suas obrigações. O alívio só veio com um novo vinho rosé chamado Lancers que foi exportado para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e fez um grande sucesso na terra do Tio Sam. O Lancers era um vinho fácil de tomar, levemente adocicado e com um rótulo de fácil entendimento que se tornou o líder de vendas no mercado americano. No final dos anos 70 a exportação dos vinhos da vinícola para os EUA chegaram a um milhão de caixas.
Neste período (final dos anos 70), apesar das vendas do Periquita para o Brasil não serem mais o principal mercado da empresa ainda representavam uma grande fatia de seus faturamento e nosso mercado mantinha um bom prestígio e um grande vigor com essa marca continuando a ser uma das mais importantes dentro da vinícola e nessa época dentro da José Maria da Fonseca que começa a história na enologia de nosso personagem de destaque.
ANTÓNIO SARAMAGO
Quando jovem, António Saramago, que compartilha o mesmo sobrenome do ganhador do prêmio Nobel, mas não possuí nenhum grau de parentesco com ele, não tomava vinho. Aliás não gostava de nenhuma bebida alcóolica, mas por àqueles misteriosos acasos do destino foi trabalhar no laboratório de enologia de um dos principais grupos vinícola de Portugal a José Maria da Fonseca, fabricante do mítico vinho Periquita. Lá estava desde os 14 anos, mas só experimentou seu primeiro vinho aos 20 anos, por “pressão” de seus colegas de trabalho que falavam que ele precisava experimentar os produtos que produziam para conhecer seus aromas e sabores.
Como aconteceu comigo e provavelmente muitos dos que estão lendo esse texto, depois que se experimenta alguns vinhos e começa a entendê-los, se inicia um caminho sem volta. Com António não foi diferente. Cativado pelo apaixonante mundo dos vinhos o que era apenas um primeiro emprego na empresa em que seu pai trabalhava, passou a ser a busca de uma vida inteira pela qualidade e inovação na produção dos vinhos e que culminou em uma linda carreira que hoje confere ao seu sobrenome referência similar em seu país ao seu patrício escritor, sendo hoje o enólogo mais antigo em atividade em Portugal.
Permaneceu por 42 anos na José Maria da Fonseca, e nesse meio tempo foi estudar na Meca da enologia mundial em Bordeaux na França. Na Escola De Enologia de Bordeaux, ele teve a oportunidade estuar com grandes mestres, como Pascal Ribéreau-Gayon e em seu próprio ambiente de trabalho pode aprender muito, pois a empresa produz uma grande variedade de vinhos de todos os tipos e estilos. Nesse tempo aprendeu a trabalhar com a uva Castelão, uma casta que apresenta muitos desafios em seu cultivo e na elaboração dos vinhos, mas que se tornou sua paixão.
Quando deixou a empresa onde passou toda sua carreia, iniciou em 2001 uma nova etapa em sua jornada, estabelecendo um projeto próprio, passando a empregar todo seu enorme conhecimento na confecção de vinhos autorais nas regiões da Península de Setúbal e no Alentejo, onde já havia revolucionado a produção de vinhos ao adicionar barricas novas de carvalho para o envelhecimento dos vinhos da região.
Com sua esposa e seus dois filhos fundou sua empresa optou por não ter vinhedos próprios, mas por conhecer profundamente os produtores locais começou a adquirir uvas de grande qualidade e fazer seus vinhos que tem por maior característica ótima acidez fazendo assim com que seus vinhos tenham grande potencial de envelhecimento o que acabou se tornando sua marca registrada.
Duas décadas se passaram, muitos prêmios conquistados e dois vinhos ícones desse espetacular enólogo chegaram aos nossos estoques e são esses que apresento hoje para vocês:
ANTÓNIO SARAMAGO RESERVA TINTO
Vinho tinto da Península de Setúbal que estagiou em carvalho francês e americano durante 12 meses e mais 12 meses na garrafa antes de sair para o mercado. Produzido com as castas Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, apresenta linda cor rubi acentuada com tons violáceo. Seus aromas apresentam notas balsâmicas e na boca seus taninos são equilibrados, boa acidez, cheio e elegante com final longo. Uma ótima opção para quem gosta de acompanhar um belo Bacalhau assado no forno com vinho tinto.
ANTÓNIO SARAMAGO SUPERIOR
Também produzido em Setúbal, essa é uma versão mais “parruda” de seu irmão mais novo. Utiliza as mesmas castas (Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet) mas nessa versão o vinho estagia por 18 meses em barricas novas de carvalho francês. O resultado é um vinho com cor rubi e reflexos alaranjados. Seu buquê apresenta aromas de chocolate preto e cassis. Apesar de encorpado, na boca é fresco, com acidez e taninos em perfeito equilíbrio, lhe proporcionando um logo final. Com grande intensidade, a harmonização indicada seria carnes vermelhas assadas no forno e queijos curados de massa mole.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para esses grandes vinhos:
Desejo muita saúde e bons vinhos a todos e para finalizar, deixo uma frase atribuída a Saramago, não o enólogo e sim o escritor:
“Somos todos escritores, só que uns escrevem e outros não.”
Comentários
Postar um comentário