Se você tem idade suficiente para, no mínimo, ser chamado de “cringe” pela geração Z, provavelmente cresceu esperando as manhãs de domingo para vibrar com as vitórias do nosso grande campeão Ayrton Senna na Fórmula 1. Após sua morte e, com o passar dos anos sem termos brasileiros brigando por vitórias na categoria, bem como por conta das mudanças de regras que foram tornando as corridas menos empolgantes, o interesse pela modalidade foi diminuindo.
Nos últimos anos, entretanto, com a chegada de um grupo americano ao comando da categoria_ não há com negar que os americanos sabem promover um evento_ ao menos para mim, o interesse retornou. Dificilmente, nos últimos dois ou três anos, perco uma corrida e tenho vibrado bastante com a nova geração de pilotos que lutam bravamente para superar o sete vezes campeão e um dos gênios do esporte de nosso tempo, o inglês Lewis Hamilton.
Nesta temporada, mais até do que as vitórias de alguns pilotos considerados “azarões” nas bolsas de apostas, um detalhe me saltou aos olhos na tradicional celebração ao final de cada corrida. Após o soar dos hinos do país do piloto vencedor, bem como do país de origem de sua equipe, temos a tradicional festa do Champagne onde estes chacoalham o espumante e o jogam uns nos outros e no pessoal que acompanha a premiação, porém esse ano o espumante utilizado não vem da tradicional região de Champagne na França, como sempre foi desde que me conheço por gente, mas de uma região rival italiana.
Essa semana vamos explorar como começou a tradição da festa do Champagne na Fórmula 1, quais foram as marcas utilizadas e como em uma reviravolta histórica o concorrente italiano ultrapassou seu rival francês na última volta e passou a frequentar o podium da categoria mais requintada do automobilismo.
A VOLTA DE APRESENTAÇÃO.
Já falamos disso aqui nesse post, mas boa parte do interesse do publico em geral em relação ao Champagne começou quando os reis da França o utilizavam como a bebida oficial de suas coroações, basicamente por ser a bebida que era produzida na região onde ocorriam as celebrações. No caso da F1 ocorreu algo muito similar. O Champagne chegou à categoria quase que por acidente. Melhor não usar mais essa palavra nessa temática.
Em 1950, o Grande Prêmio da França era disputado nos arredores da cidade de Reims, na região de Champagne e os produtores locais se uniram para presentear o vencedor, o argentino e lenda do esporte Juan Manuel Fangio com uma garrafa gigante de três litros (o nome desse tipo de garrafa é Jeroboam) do vinho local. Esse mesmo o champagne. Nesse momento foram plantadas as raízes de uma celebração que se tornou reconhecida no mundo inteiro e se espalhou por diversos esportes, do Moto GP ao Tour de France, diversos esportistas utilizam-se dessa simbologia para comemorar suas vitórias. Mas após aquela vitória em 1950, Don Manuel Fangio, não estourou a rolha e jogou o Champagne “na galera”. Simplesmente agradeceu o presente e o guardou para ser consumido na privacidade do seu lar.
A tradicional celebração conhecida como festa do champagne onde os vitoriosos molham os outros competidores e membros das equipes surgiu novamente por a........caso em 1965 em uma corrida fora da categoria, mais precisamente após uma corrida das 24 horas de Le Mans. Na ocasião o vencedor, Jo Siffert também foi presenteado com uma garrafa de champagne, que acabou esquentando e o campeão sem querer esbarrou na gaiola que prendia a rolha fazendo com que essa “estourasse” e molhasse boa parte do público que acompanhava a sua premiação.
Um ano depois em 1966 o piloto americano Dan Gurney, ganhou uma etapa da Fórmula 1 e dessa vez, de forma deliberada, banhou as pessoas que acompanhavam sua celebração com um mar de borbulhas e desde então a tradicional festa do Champagne virou um ícone de comemoração dentro e fora do automobilismo.
AS CAMPEÃS DO PASSADO.
Entre os anos 1966 até 1999, justamente o período de maior interesse pela modalidade o patrocinador oficial da festa da Champagne foi Maison francesa Moët & Chandon, que pertence ao grupo LVMH, um dos maiores conglomerados de luxo do mundo. Foi quase uma corrida em que a Moët dominou da largada até o final, se não fosse um “pneu furado”.
Em 1991 a Loi Évin ou Lei Évin, batizada em homenagem ao ministro da saúde francês à época, Claude Évin, foi promulgada com o intuito de diminuir e até banir as propagandas de tabaco e álcool na França. A lei chegou até a Fórmula 1 e a tradicional celebração feita com os champagnes ao final de cada dura corrida, foi chamada para “uma parada forçada nos boxes”.
Foi então que 1997 o então presidente da modalidade Bernie Ecclestone, percebendo que tal tradição tão antiga, não poderia ser perdida, pediu que sua assistente fosse ao mercado e comprasse algumas garrafas de champagne e estas foram oferecidas aos pilotos vitoriosos após o GP de Magny Cors na França e não me perguntem como isso foi possível legalmente, mas elas estão sendo servidas até hoje.
Após seu longo reinado, a Moët
& Chandon foi substituída pela Champagne G.H Mumm, Maison de propriedade da Pernod Ricard no início da temporada do ano 2000 e por lá ficou até o ano de 2015. Apesar de ser uma casa bastante antiga, tendo seus primeiros espumantes sido produzidos no início do século XIX e figurando nos banquetes de diversas famílias reais europeias ao longo do tempo, a parceria com a Fórmula 1 deu tão certo que na visão do cliente as marcas quase se fundiram. Era muito comum naquela época os consumidores não terem ideia do nome do champagne, simplesmente o chamavam de o Champagne da Fórmula 1. Com certeza uma parceria campeão, mas mesmo os maiores reinados do esporte chegam à um fim.
CRISE DE IDENTIDADE.
Assim como a própria Fórmula 1 que passou por momentos conturbados, com troca de proprietários e mudanças de regras, a festa do Champagne não teve um vencedor absoluto. Chandon (2016 – 2017), Carbon (2017 –2019) e Moët & Chandon (2020) se revezaram no podium da modalidade.
O caso da Chandon, um espumante mais “simples” e de produção em 6 países, inclusive no Brasil, a crise de identidade da F1 ficou evidenciada, uma vez que a modalidade sempre foi sinônimo de requinte e quando inseriram um produto de produção em larga escala, na festa do champagne buscaram atingir um público diferente do que era usual à categoria.
Se a audiência e a relevância já não era mais a mesma, se mudanças e crises eram refletidas até no patrocinador de Champagnes, uma figura reinou absoluta durante esse período. Com exceção da temporada de 2016, vencida pelo alemão Nico Rosberg, o inglês Sir Lewis Hamilton, ganhou todos os títulos entre 2015 até 2020, esses somados aos seus dois títulos anteriores (2014 e 2008) os tornaram o maior campeão de todos os tempos na Fórmula 1 e um ícone do nosso tempo.
A CHEGADA DA NOVA GERAÇÃO.
Os últimos anos revelaram novos pilotos, nomes como Max Verstappen, Charles Leclerc e Lando Norris, bem como a chegada do grupo americano Liberty Media ao controle da modalidade, trouxeram novos ares a Fórmula 1 e com eles uma renovação de interesse do público na mesma. Novos circuitos, corridas disputadas e a busca pela superação do grande campeão fez com que muitos, incluindo quem vos lhes escreve, voltassem a acordar cedo aos domingos para acompanhar as disputas.
E nessa temporada em particular um novo vencedor esteve presente em todos os podiums da temporada. Quebrando toda a hegemonia dos champagnes franceses, um espumante italiano da região de Trento passou figurar nos momentos de glória dos pilotos e equipes, sendo que o nome não poderia ser mais sugestivo. Vino Spumante Ferrari Trento Metodo Classico.
Apesar de inevitável associação com a tradicional scuderia de Maranello, esse Ferrari não tem nada a ver com a marca das potentes máquinas italianas, mas é sabido que seus dois fundadores, Giulio Ferrari (espumantes) e o mítico Enzo Ferrari (carros) se conheceram no passado e ficaram amigos, decidindo promover mutuamente ambas as marcas.
A marca de Enzo chegou mais cedo a F1 e se tornou uma de suas referências, entretanto a Ferrari Trento é mais antiga e já produzia espumante há muito tempo antes da marca de carros fundar sua equipe de corridas. O produto escolhido para figurar nas premiações foi blanc-de-blanc 100% Chardonnay apresentado em uma garrafa de três litros como aquela primeira Jeroboam entregue a Juan Manuel Fangio. Este espumante é elaborado pelo método champenoise, em que a fermentação secundária ocorre na própria garrafa e não em um tanque pressurizado.
Com um contrato de três anos e presença garantida em todos os pódios, levando em consideração o atual momento da marca homônima de carros, pelo menos os milhões de fãs da marca Ferrari, já que na pista está difícil, poderão ver seu nome na tradicionalíssima festa de premiação da Fórmula 1.
Se na pista faz tempo que não temos um representante brasileiro brigando pelos lugares mais altos do pódio da fórmula 1, nas garrafas a cada ano que passa o Brasil vem galgando seu lugar de destaque e no quesito espumantes já ganhamos muitas provas. Quem sabe no futuro não teremos novamente grandes campeões na pista e seria incrível se estes celebrassem as vitórias com um espumante nacional.
Abaixo deixo alguns links na Amazon para alguns espumantes maravilhosos:
Saúde Amigos!
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